É bastante comum, durante a educação básica, que as áreas do conhecimento sejam ensinadas de forma compartimentalizada – embora, atualmente, tenhamos movimento contrários que buscam formas de integrar os conhecimentos focando em um ensino interdisciplinar.
O que muitas pessoas não sabem é como fazer um ensino que seja interdisciplinar, ou seja, um ensino que permita a integração de diferentes áreas do conhecimento e que elas, integradas e articulando entre si, contribuam para o processo de aprendizagem.
A ciência, por exemplo, pode se utilizar da arte (e vice-versa) para contribuir na aprendizagem de alunos. Esse trabalho foi muito bem feito pelo escritor português António Gedeão, pesudônimo de Rómulo Vasco da Gama de Carvalho (1906-1997).
António Gedeão (1906-1997), pesudônimo de Rómulo Vasco da Gama de Carvalho, nasceu em Lisboa, Portugal.
Além de escritor – também foi fotógrafo, pintor, ilustrador, pedagogo e poeta -, Gedeão foi professor de ciências no liceu Camões e no liceu Dom João III, em Coimbra. Seus conhecimentos de química e física e sua habilidade para a escrita e inclinação para a arte, permitiram que Gedeão utilizasse da arte e da ciência como aliadas para o ensino.
O artigo publicado na revista Química Nova na Escola discute a formação de professores de química usando como ferramentas atividades que podem ser elaboradas a partir de dois poemas de António Gedeão. Um desses poemas, chamado “Lágrima de preta”, permite reflexões interdisciplinares sobre ciência, literatura e questões sociais. Leia a seguir.
Lágrima de preta
(António Gedeão)
Encontrei uma preta
que estava a chorar,
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar.
Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.
Olhei-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.
Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.
Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que era de costume:
Nem sinais de negro,
nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio.
António Gedeão, expõe a questão do racismo no poema e utiliza a ciência, destrinchada em cada verso, para afirmar que os seres humanos são iguais!
Além de permitir a aprendizagem de conceitos específicos de cada área, o poema promove uma discussão social entre professores e alunos sobre questões bastante atuais. Ou seja, é uma ferramenta bastante poderosa para o processo de educação de uma forma mais significativa.
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Acesso em 26 de Fevereiro de 2019
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