A sociedade é dinâmica, e somos diariamente bombardeados por todo tipo de informação. Entretanto, sabemos que quantidade de informação não é sinônimo de conhecimento. Em meio a esse bombardeio, cheio de imediatismo e superficialidade, em que todos somos leitores e autores, como fazer para selecionar o que é relevante e confiável?
Essa reflexão foi feita, de forma interessante e atual, pelo filósofo e educador Mario Sergio Cortella no episódio A era da curadoria: o que importa é saber o que importa do programa Café Filosófico, exibido em um canal televisivo. Nele, Cortella discrimina “informação” e “conhecimento” e critica a educação: “A escola também soterrou você com muita coisa absolutamente inútil… Conhecimento é inesquecível, o que é esquecível é a informação… Informação é cumulativa, conhecimento é seletivo. A escola do Brasil, em grande medida, ela foi marcada por uma perspectiva ilustrativa, um excessivo número de informações, sem lidar de fato com aquilo que seria importante, isto é, que pudesse ser levado pra dentro.”
Cortella fala da ideia de trabalhar o “conhecimento como aquilo que vai servir para operar a minha vida, fazê-la funcionar, o conhecimento como solução de problemas, o conhecimento como maneira de existir de forma mais consciente, mais nítido, menos alienado.”
Nessa mesma linha, o físico e estatístico alemão Andreas Schleicher, coordenador do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), fala que “conteúdo em excesso é sinônimo de aprendizado superficial”. Ele analisou o currículo de matemática de vários países e concluiu que o currículo brasileiro é o triplo do de Singapura, que está no topo em relação ao desempenho no Pisa, enquanto o Brasil está entre os últimos. Schleicher fala da importância de “ater-se aos conceitos essenciais e às ferramentas que permitem ao aluno raciocinar melhor.”
Nesse mar de informações, o que vale a pena ensinar e aprender? Que conhecimento importa? Quais conteúdos? Como selecionar esses conteúdos? Para que eles servem? Em meio a esses dilemas, o papel do professor-curador é fundamental para ajudar o aluno partir do que tem e chegar onde é necessário. Nesse trajeto, o professor auxilia na construção de critérios de seleção.
No artigo O pensamento computacional e a reinvenção do computador na educação, Paulo Blikstein, professor na Escola de Educação e no departamento de Ciência da Computação da Universidade de Stanford nos EUA, discorre sobre a exigência do mundo atual: “… o mundo atual exige muito mais do que ler, escrever, adição e subtração. A lista de habilidades e conhecimentos necessários para o pleno exercício da cidadania no século XXI é tão extensa quanto controversa. Não sabemos muito bem quais são essas habilidades, muito menos como ensiná-las… Boa parte da ciência e da matemática que ensinamos na escola foi inventada porque não tínhamos computadores, e seu aprendizado é desnecessariamente difícil, afastando qualquer aluno mais criativo. Portanto, a habilidade de transformar teorias e hipóteses em modelos e programas de computador, executá-los, depurá-los, e utilizá-los para redesenhar processos produtivos, realizar pesquisas científicas ou mesmo otimizar rotinas pessoais, é uma das mais importantes habilidades para os cidadãos do século XXI. E, curiosamente, é uma habilidade que nos faz mais humano. Afinal, o que há de mais humano do que livrarmo-nos de tarefas repetitivas e focar no mundo das ideias?”
Como podemos perceber, não são poucas as competências, habilidades e atitudes necessárias para o exercício da cidadania no século XXI, para o enfrentamento do mundo do trabalho, para o mundo da tecnologia. Nesse contexto, o papel do professor-curador, inclusive aquele de matemática, é imprescindível para o desenvolvimento do estudante como cidadão crítico, criativo e autônomo.
Como Cortella, Schleicher e Blikstein já apontaram, hoje em dia, mais importante do que ensinar conteúdos é saber o que realmente importa, ajudar os alunos a desenvolver raciocínio lógico, autonomia e criatividade, ajudá-los em seu percurso com foco onde querem chegar, prepará-los para o mundo como um todo, inclusive o do trabalho. Nós, como educadores e curadores, somos fundamentais no processo de formação cidadã de nossos alunos.
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